Como a bebida alcóolica pode prejudicar seu coração
- Géssica Magalhães
- 2 de out. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 4 de out.
O consumo excessivo de álcool, quando constante e prolongado, pode ter consequências devastadoras para a saúde. Entre os órgãos mais afetados está o coração, cuja função pode ser gravemente comprometida pela toxicidade do álcool.

Este artigo explora o impacto do alcoolismo no sistema cardiovascular, abordando as principais complicações e os efeitos diretos e indiretos que o consumo abusivo de álcool pode gerar no coração, com base nas diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
1. Como o álcool afeta o sistema cardiovascular
O álcool, em pequenas quantidades, pode ter efeitos vasodilatadores e até proteger o coração em alguns casos, como sugerem alguns estudos sobre o consumo moderado de vinho tinto. No entanto, o abuso de álcool reverte esses potenciais benefícios e desencadeia uma série de reações prejudiciais ao sistema cardiovascular.
O consumo excessivo de álcool pode elevar a pressão arterial, aumentar a frequência cardíaca e causar alterações no ritmo cardíaco. Esses efeitos, embora possam ser inicialmente temporários, tendem a se tornar crônicos em pessoas que fazem uso abusivo de álcool. A longo prazo, o álcool danifica o músculo cardíaco, provocando uma condição conhecida como cardiomiopatia alcoólica, que compromete a capacidade do coração de bombear sangue de forma eficiente.
2. Cardiomiopatia alcoólica: uma consequência severa
A cardiomiopatia alcoólica é uma das manifestações mais graves do consumo crônico de álcool. Essa condição é caracterizada pelo enfraquecimento do músculo cardíaco, o que leva a uma redução da capacidade do coração de se contrair e de bombear o sangue adequadamente. Com o tempo, essa insuficiência do coração em realizar suas funções de maneira eficaz pode resultar em insuficiência cardíaca congestiva.
O álcool afeta as células do miocárdio de maneira tóxica, alterando sua estrutura e função. Isso pode provocar a dilatação dos ventrículos, resultando em uma condição conhecida como dilatação cardíaca. Como o coração não consegue se contrair de forma eficiente, o sangue começa a se acumular nas câmaras cardíacas e nos pulmões, levando a sintomas como falta de ar, cansaço extremo, inchaço nos tornozelos e palpitações.
3. Hipertensão induzida pelo álcool
O consumo excessivo de álcool está fortemente associado ao aumento da pressão arterial, uma das principais causas de doenças cardiovasculares em todo o mundo. A hipertensão arterial pode ocorrer devido ao efeito do álcool sobre o sistema nervoso simpático, que regula a contração dos vasos sanguíneos e a frequência cardíaca.
O álcool interfere nos mecanismos regulatórios do corpo, provocando vasoconstrição e aumentando a resistência ao fluxo sanguíneo. A hipertensão prolongada sobrecarrega o coração, o que pode levar ao espessamento das paredes arteriais, aumentando o risco de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC).
Em indivíduos com predisposição à hipertensão, o consumo regular de álcool agrava ainda mais essa condição, aumentando consideravelmente o risco de complicações cardíacas graves.
4. Arritmias e o “Coração de Feriado”
O álcool também pode interferir no ritmo natural do coração, levando ao desenvolvimento de arritmias, como a fibrilação atrial. Essa condição se caracteriza por batimentos cardíacos irregulares e rápidos, que podem resultar em palpitações, tontura e aumento do risco de formação de coágulos sanguíneos. A fibrilação atrial aumenta significativamente o risco de AVC, uma vez que os coágulos formados no coração podem se desprender e viajar para o cérebro, bloqueando o fluxo sanguíneo.
O termo "Coração de Feriado" foi cunhado para descrever um fenômeno observado em pessoas que, após consumirem grandes quantidades de álcool em um curto período, como em festas ou celebrações, desenvolvem episódios súbitos de arritmia. Essa condição pode afetar tanto indivíduos com doenças cardíacas preexistentes quanto pessoas saudáveis, mostrando o impacto imediato que o álcool pode ter no ritmo cardíaco.
5. Aterosclerose e o efeito inflamatório do álcool
O consumo crônico de álcool também está associado ao desenvolvimento de aterosclerose, uma condição em que placas de gordura, colesterol e outras substâncias se acumulam nas paredes das artérias, estreitando-as e dificultando o fluxo sanguíneo. O álcool contribui para esse processo ao aumentar os níveis de colesterol LDL (o "colesterol ruim") e triglicerídeos, e ao promover um estado inflamatório crônico no organismo.
A inflamação provocada pelo álcool agrava o processo de formação de placas ateroscleróticas, tornando as artérias mais rígidas e propensas a obstruções. A aterosclerose pode levar a uma série de complicações cardiovasculares, como angina, infarto e AVC, colocando os consumidores abusivos de álcool em um risco elevado de eventos cardiovasculares fatais.
6. Efeitos indiretos do alcoolismo sobre o coração
Além dos efeitos diretos do álcool sobre o sistema cardiovascular, o alcoolismo muitas vezes está associado a comportamentos que indiretamente agravam os riscos cardíacos. O abuso de álcool pode levar a uma alimentação desregrada, ganho de peso e sedentarismo, todos fatores que contribuem para o desenvolvimento de doenças cardíacas.
Além disso, o alcoolismo está frequentemente relacionado ao tabagismo, uma combinação que potencializa os danos ao coração e aos vasos sanguíneos. O fumo, junto com o álcool, acelera o processo de aterosclerose e aumenta o risco de arritmias e hipertensão. Essas associações comportamentais tornam o alcoolismo uma das principais causas evitáveis de doenças cardiovasculares.
7. Prevenção e tratamento do alcoolismo para proteger o coração
A boa notícia é que os efeitos do álcool no coração, embora graves, podem ser prevenidos ou revertidos em muitos casos, desde que o consumo de álcool seja interrompido a tempo. Para indivíduos diagnosticados com cardiomiopatia alcoólica, a cessação completa do consumo de álcool é fundamental para melhorar a função cardíaca e prevenir o agravamento da doença.
O tratamento do alcoolismo pode exigir uma abordagem multidisciplinar, envolvendo médicos, psicólogos e terapeutas para ajudar o paciente a superar a dependência e adotar um estilo de vida mais saudável.
Além disso, a adoção de uma alimentação balanceada, a prática regular de atividade física e o controle dos fatores de risco cardiovascular, como colesterol e pressão arterial, são essenciais para a recuperação da saúde do coração.
Conclusão


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