PBE: entendendo as linhas de psicoterapia
- Géssica Magalhães
- 21 de out.
- 4 min de leitura

Nas últimas décadas, a psicologia moderna trilhou um caminho sólido rumo à consolidação científica. Abandonando interpretações puramente subjetivas e práticas empíricas isoladas, a área passou a adotar protocolos clínicos, mensuração de desfechos e validação estatística de suas intervenções. Este movimento deu origem ao que hoje chamamos de psicologia baseada em evidência.
Diferente da psicologia intuitiva, a psicoterapia baseada em evidência integra dados obtidos por meio de pesquisas rigorosas com a experiência clínica e os valores do paciente. É, portanto, uma prática fundamentada na razão, mas humanizada pela escuta e pelo vínculo terapêutico.
O que é psicologia baseada em evidência?
A psicologia baseada em evidência é um modelo clínico adotado oficialmente pela APA (American Psychological Association) desde 2006. Trata-se da integração de três pilares:
Melhores evidências científicas disponíveis: estudos randomizados, revisões sistemáticas e metanálises.
Conhecimento clínico do terapeuta: percepção apurada, julgamento técnico e sensibilidade interpessoal.
Preferências e valores do paciente: respeitando a história, crenças, cultura e objetivos pessoais.
Essa abordagem garante que o cuidado psicológico não seja apenas tecnicamente competente, mas também eticamente responsável e adaptado à singularidade de cada indivíduo.
Transtornos mais estudados: onde a evidência é mais robusta
A psicoterapia baseada em evidência tem sido especialmente eficaz em diversos transtornos mentais, com destaque para:
Depressão
A depressão é uma das condições mais prevalentes e incapacitantes do mundo. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) apresenta eficácia semelhante à farmacoterapia nos quadros leves a moderados, segundo diretrizes da APA. Já em casos graves, a combinação de ambos os tratamentos tende a oferecer melhores resultados.
Técnicas baseadas em evidência incluem:
Reestruturação cognitiva;
Ativação comportamental;
Treinamento em resolução de problemas.
Ansiedade
Transtornos de ansiedade (fobias, transtorno de pânico, ansiedade generalizada, TOC) respondem de forma muito positiva à TCC, à terapia de exposição e à terapia metacognitiva. Em geral, os efeitos são duradouros e com baixos índices de recaída.
A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), por sua vez, tem demonstrado bons resultados em quadros de ansiedade resistente, promovendo flexibilidade psicológica e diminuição do evitamento experiencial.
TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático)
A psicoterapia é a linha de frente no tratamento do TEPT, com destaque para:
Terapia de Exposição Prolongada;
EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento por Movimento Ocular);
Terapia Cognitiva Baseada em Trauma.
Esses modelos ajudam a reprocessar memórias traumáticas, reduzindo sintomas como flashbacks, hiperalerta, evitação e dissociação. A evidência demonstra que intervenções precoces e estruturadas melhoram significativamente o prognóstico.
TAB (Transtorno Afetivo Bipolar)
No TAB, a psicoterapia atua como coadjuvante ao tratamento medicamentoso. As intervenções mais eficazes são:
Terapia Interpessoal e do Ritmo Social (IPSRT);
Terapia Familiar;
Psicoeducação individual ou em grupo.
Estas abordagens melhoram a adesão ao tratamento, reduzem episódios de recaída e promovem melhor qualidade de vida entre os ciclos de humor.
O papel da aliança terapêutica
Embora a escolha do modelo terapêutico seja relevante, a aliança terapêutica, ou seja, a qualidade da relação entre terapeuta e paciente, é um dos maiores preditores de sucesso da psicoterapia, segundo a literatura científica.
A prática baseada em evidência não ignora o aspecto humano da escuta. Pelo contrário: ela o valoriza como parte essencial do processo. Um terapeuta treinado em evidência sabe que protocolos bem aplicados só funcionam quando há empatia, confiança e respeito mútuo.
Desafios na implementação
Apesar da vasta produção científica, nem sempre a psicologia baseada em evidência chega com força na prática clínica cotidiana. Alguns obstáculos incluem:
Falta de formação técnica adequada em protocolos validados;
Resistência de profissionais a atualizações constantes;
Acesso limitado a supervisões e capacitações de qualidade;
Sistemas de saúde que priorizam quantidade em vez de qualidade de atendimento.




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