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Exercício Físico como Antidepressivo Natural

  • Foto do escritor: Géssica Magalhães
    Géssica Magalhães
  • 19 de out.
  • 4 min de leitura
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Exercício Físico como Antidepressivo Natural: Movimento que Cura Coração e Mente

A ciência já não deixa dúvidas: mover o corpo com regularidade é uma das estratégias mais eficazes e seguras para fortalecer não apenas os músculos, mas também a mente e o coração. O exercício físico desponta como um verdadeiro antidepressivo natural, com potencial de prevenir, tratar e aliviar sintomas depressivos e de ansiedade, além de proteger contra doenças cardiovasculares.

Ao contrário dos medicamentos, o exercício não possui bula com efeitos colaterais indesejáveis, mas sim uma lista robusta de benefícios para a saúde mental e emocional, com impacto positivo na autoestima, no sono, no controle do estresse e no senso de propósito.


Depressão: um desafio multifatorial

A depressão é uma condição complexa, de base multifatorial, que atinge cerca de 300 milhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Ela se manifesta por humor deprimido, perda de interesse pelas atividades habituais, fadiga, alterações no sono, apetite, autoestima e concentração. Em sua forma mais grave, pode levar ao suicídio.

Embora o tratamento medicamentoso e a psicoterapia sejam pilares fundamentais, a incorporação de práticas integrativas como o exercício físico tem se mostrado essencial para a recuperação funcional e o bem-estar duradouro.


Exercício como tratamento baseado em evidência

A American Psychological Association (APA) reconhece o exercício regular como uma intervenção eficaz para a redução dos sintomas depressivos leves a moderados. A prática é comparável, em eficácia, a antidepressivos de primeira linha em muitos estudos clínicos, especialmente quando associada a mudanças de estilo de vida.

A AHA e a ESC, por sua vez, recomendam a atividade física como parte da reabilitação psicocardiológica, não apenas pelo impacto na saúde cardiovascular, mas também pelos benefícios emocionais associados.

Pesquisas apontam que apenas 30 minutos de caminhada, cinco vezes por semana, já promovem uma melhora significativa no humor e na qualidade de vida.


Mecanismos fisiológicos e neuroquímicos

O poder antidepressivo do exercício pode ser explicado por diversos mecanismos biológicos:

1. Liberação de neurotransmissores

O movimento estimula a produção de serotonina, dopamina e noradrenalina, substâncias que regulam o humor, a motivação e o prazer. Em pacientes com depressão, esses neurotransmissores geralmente estão em níveis reduzidos.


2. Modulação do eixo do estresse

A atividade física regula o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, reduzindo os níveis de cortisol, hormônio associado ao estresse crônico, à insônia e à fadiga.


3. Aumento da neuroplasticidade

O exercício estimula o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), uma proteína que favorece a neurogênese, especialmente no hipocampo, região frequentemente atrofiada em pessoas com depressão.


4. Melhora da função cardiovascular

A prática regular contribui para a redução da pressão arterial, melhora da variabilidade da frequência cardíaca e menor risco de infarto — fatores que, por si só, impactam positivamente a saúde mental.


A ponte entre depressão e saúde cardiovascular

A depressão não afeta apenas o humor: ela é um fator de risco independente para doenças cardiovasculares. Pessoas com histórico depressivo têm maior risco de desenvolver hipertensão, infarto e arritmias.

Além disso, pacientes cardiopatas que desenvolvem depressão apresentam:

  • Pior adesão ao tratamento;

  • Maior inflamação sistêmica;

  • Recuperação mais lenta após eventos agudos;

  • Aumento da mortalidade por causas cardíacas.


O exercício atua como elo terapêutico entre a saúde mental e a cardiovascular, promovendo recuperação global e redução de riscos futuros.


Benefícios emocionais percebidos

Além dos efeitos biológicos, o exercício promove experiências subjetivas valiosas para quem enfrenta transtornos emocionais:

  • Sensação de autonomia e controle sobre o próprio corpo;

  • Redução da ruminação mental;

  • Melhora da autoimagem;

  • Aumento do contato social em ambientes de prática coletiva;

  • Sensação de superação e conquista ao atingir metas.


Esses efeitos reforçam a autoestima e o senso de propósito, fundamentais para a manutenção do bem-estar emocional.


Qual o melhor tipo de exercício?

A resposta é simples: aquele que você consegue manter com regularidade. A adesão é o fator mais importante. No entanto, estudos destacam os seguintes:

🏃 Aeróbicos

Caminhada, corrida leve, natação e ciclismo são amplamente estudados e demonstram redução significativa de sintomas depressivos.


🏋️ Musculação

Exercícios de resistência também impactam positivamente o humor e a autoestima, especialmente em adultos jovens e idosos.


🧘 Corpo e mente

Yoga, tai chi e pilates combinam movimento com atenção plena e respiração, promovendo redução do estresse e aumento da conexão mente-corpo.


A prática ideal deve equilibrar frequência, intensidade e prazer. O movimento não precisa ser intenso para ser terapêutico — precisa ser constante.


Prescrição consciente: do consultório à prática

Profissionais da saúde devem incluir o incentivo à atividade física como parte do plano terapêutico. Recomendações da AHA e ESC incluem:

  • 150 minutos/semana de exercício aeróbico moderado ou

  • 75 minutos/semana de exercício vigoroso, além de

  • 2 dias/semana de fortalecimento muscular.


É importante iniciar com metas realistas, progressivas e adaptadas à condição física do paciente. Em casos graves, o apoio de educadores físicos, fisioterapeutas ou programas de reabilitação pode ser necessário.


Barreiras à prática e como superá-las

Muitos pacientes com depressão relatam dificuldade para iniciar o exercício. Isso é esperado e compreensível, já que a apatia é sintoma do transtorno. Algumas estratégias para superar essa barreira:

  • Comece pequeno: 5 minutos por dia já são um começo;

  • Envolva alguém: exercícios em grupo aumentam a motivação;

  • Registre as sensações pós-exercício: isso reforça a associação positiva;

  • Associe à rotina diária: caminhar até o mercado, subir escadas no trabalho;

  • Evite foco estético: priorize o bem-estar e a funcionalidade.


Conclusão: Movimento é remédio

O exercício físico deve ser visto como um pilar essencial no cuidado integral da saúde mental e cardiovascular. Ele não substitui, mas complementa os tratamentos tradicionais com eficácia, segurança e acessibilidade.

Movimentar-se é um ato de autocuidado. É resgatar o ritmo interno em um mundo que vive acelerado. É dar ao corpo a chance de se expressar, e à mente, a oportunidade de respirar.

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© 2019 por Dra Géssica Magalhães. 

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