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Meditação e Mindfulness: Aliados Silenciosos da Mente e do Coração

  • Foto do escritor: Géssica Magalhães
    Géssica Magalhães
  • 19 de out.
  • 4 min de leitura
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Vivemos em uma era marcada pelo excesso: de estímulos, de informações, de cobranças. No meio desse turbilhão, cresce o número de pessoas que buscam refúgio em práticas simples e milenares como a meditação e o mindfulness. Mais do que modismos, essas abordagens têm ganhado respaldo científico sólido por seus benefícios comprovados à saúde mental e cardiovascular.


O que é meditação? E o que é mindfulness?

Embora frequentemente usadas como sinônimos, meditação e mindfulness são conceitos distintos e complementares.

  • Meditação é um termo amplo que engloba diversas técnicas mentais utilizadas para promover relaxamento, foco e autoconhecimento. Pode incluir visualizações, mantras, respiração consciente, entre outras práticas.

  • Mindfulness, ou atenção plena, é uma forma específica de meditação que consiste em manter a atenção no momento presente, de forma intencional e sem julgamento. Sua aplicação pode se estender à alimentação, caminhada, interações sociais e até ao trabalho.


Ambas as práticas têm em comum o desenvolvimento da consciência corporal, emocional e cognitiva, pilares essenciais para o equilíbrio entre corpo e mente.


A ciência por trás da meditação

A American Psychological Association (APA) reconhece a meditação como uma intervenção eficaz para redução de estresse, ansiedade, depressão, insônia e dor crônica. Diversos estudos clínicos demonstram que a prática regular:

  • Reduz os níveis de cortisol (hormônio do estresse);

  • Diminui a ativação da amígdala (estrutura cerebral ligada ao medo);

  • Aumenta a espessura do córtex pré-frontal (relacionado à regulação emocional);

  • Melhora a conectividade entre diferentes regiões do cérebro.


Na prática clínica, programas como o MBSR (Mindfulness-Based Stress Reduction) e o MBCT (Mindfulness-Based Cognitive Therapy) têm sido incorporados como estratégias coadjuvantes no tratamento de transtornos mentais e doenças crônicas.


Benefícios para a saúde cardiovascular

A American Heart Association (AHA) considera o mindfulness uma ferramenta promissora na prevenção e manejo de doenças cardiovasculares, com evidências crescentes de seus efeitos benéficos sobre:

  • Pressão arterial: Práticas meditativas reduzem a pressão sistólica e diastólica de forma significativa, especialmente quando associadas a mudanças de estilo de vida;

  • Frequência cardíaca: A meditação desacelera o ritmo cardíaco e promove maior equilíbrio autonômico;

  • Variabilidade da frequência cardíaca (VFC): Indicador de resiliência fisiológica, a VFC melhora com a prática constante;

  • Redução da inflamação sistêmica: Menores níveis de PCR-us e interleucinas foram observados em praticantes regulares;

  • Recuperação pós-infarto: Pacientes que meditam apresentam melhor adesão ao tratamento, menor ansiedade e maior senso de controle.


A European Society of Cardiology (ESC) também recomenda o uso de intervenções mente-corpo como parte da abordagem psicossocial integrada para pacientes com risco ou histórico de doença arterial coronariana.


O elo entre saúde mental, estresse e coração

A relação entre emoções e sistema cardiovascular é complexa e bidirecional. Transtornos como ansiedade, depressão e burnout são reconhecidos fatores de risco para infarto e AVC. Isso ocorre por meio de mecanismos como:

  • Ativação excessiva do sistema nervoso simpático;

  • Aumento de marcadores inflamatórios e pró-trombóticos;

  • Comprometimento da função endotelial;

  • Adoção de hábitos prejudiciais (como tabagismo, sedentarismo e má alimentação).


A meditação, ao atuar na modulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, interrompe esse ciclo vicioso, promovendo uma resposta fisiológica mais adaptativa ao estresse.

Em outras palavras: aprender a respirar com consciência pode reduzir arritmias, baixar a pressão e melhorar o humor.


Meditação e o cérebro do paciente cardiopata

Imagens por ressonância magnética funcional (fMRI) revelam que a prática regular de mindfulness altera positivamente áreas cerebrais relacionadas à regulação emocional, empatia, memória e tomada de decisão.

Essas mudanças estruturais e funcionais explicam por que pacientes com doenças cardiovasculares que praticam meditação relatam:

  • Menor reatividade emocional;

  • Melhor enfrentamento de diagnósticos difíceis;

  • Redução de sintomas depressivos pós-infarto;

  • Maior motivação para aderir ao tratamento medicamentoso e ao exercício físico.


Quem pode praticar? Existe contraindicação?

A meditação é segura para a maioria das pessoas e pode ser adaptada a diferentes perfis:

  • Jovens e idosos;

  • Gestantes;

  • Pacientes oncológicos ou com doenças crônicas;

  • Pessoas com mobilidade reduzida (com versões em posição deitada ou sentada).


Entretanto, em indivíduos com transtornos psiquiátricos graves descompensados, como psicose aguda, recomenda-se avaliação prévia e acompanhamento especializado.


Como começar a praticar?

A chave é a regularidade, e não a perfeição. Iniciar com 5 a 10 minutos por dia já pode trazer benefícios perceptíveis em poucas semanas.

Dicas para iniciar:

  1. Escolha um horário fixo (de manhã ou antes de dormir);

  2. Sente-se em local tranquilo e confortável;

  3. Foque na respiração, nas sensações corporais ou em um som específico;

  4. Quando perceber a mente divagar, apenas reconheça e volte ao foco;

  5. Use aplicativos ou áudios guiados se necessário.


Com o tempo, a prática se torna natural, e o estado de atenção plena se expande para outras áreas da vida.


Meditação na prática clínica: um novo paradigma de cuidado

Hospitais, clínicas e centros de reabilitação têm incluído meditação e mindfulness em seus protocolos assistenciais. Pacientes em reabilitação cardiovascular, por exemplo, se beneficiam tanto em marcadores objetivos quanto em desfechos subjetivos:

  • Menor uso de medicações ansiolíticas;

  • Redução de queixas de dor torácica inespecífica;

  • Melhora no padrão de sono;

  • Aumento da disposição para o autocuidado.


Essa abordagem mais integrativa e humanizada coloca o paciente como protagonista de sua própria saúde.


Em resumo:

  • Meditação e mindfulness são práticas acessíveis, baseadas em evidências, que fortalecem a saúde mental e promovem proteção cardiovascular;

  • Reduzem o estresse, equilibram o sistema nervoso autônomo e modulam a inflamação crônica;

  • São eficazes na prevenção, controle e reabilitação de doenças cardíacas;

  • Devem ser incentivadas como parte de um estilo de vida saudável, ao lado de alimentação, sono e atividade física;

  • Constituem ferramentas poderosas para restaurar a conexão entre o corpo, a mente e o presente.

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© 2019 por Dra Géssica Magalhães. 

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