Avaliação de risco cardiológico na mulher com câncer de mama
- Géssica Magalhães
- 2 de out. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 5 de out.
O câncer de mama é uma das doenças mais comuns entre as mulheres em todo o mundo. No entanto, além dos desafios do tratamento oncológico, é crucial estar atento a outro aspecto essencial da saúde: o impacto das terapias no sistema cardiovascular.

Muitas das abordagens terapêuticas para o câncer de mama podem ter consequências diretas ou indiretas sobre o coração. Este artigo aborda a avaliação de risco cardiológico em mulheres com câncer de mama, com base nas diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
1. A relação entre o câncer de mama e o risco cardiovascular
O tratamento do câncer de mama frequentemente envolve o uso de quimioterápicos, radioterapia e terapias hormonais que, apesar de serem eficazes no combate à doença, podem trazer efeitos colaterais significativos ao sistema cardiovascular.
A cardiotoxicidade, termo utilizado para descrever esses efeitos adversos, pode se manifestar de diversas formas, incluindo insuficiência cardíaca, hipertensão, isquemia e arritmias.
A correlação entre o câncer de mama e o risco cardíaco deve ser avaliada desde o início do diagnóstico. Pacientes que já apresentam fatores de risco cardiovascular, como hipertensão, diabetes ou dislipidemia, podem ter uma predisposição maior a desenvolver complicações cardíacas durante o tratamento oncológico.
A avaliação precoce e contínua pode ajudar a mitigar esses riscos e a adotar medidas preventivas apropriadas.
2. Quimioterapia e seus impactos no coração
Algumas drogas quimioterápicas amplamente utilizadas no tratamento do câncer de mama, como as antraciclinas e o trastuzumabe, são conhecidas por seus efeitos cardiotóxicos. As antraciclinas, por exemplo, podem causar danos ao músculo cardíaco, levando a um quadro de insuficiência cardíaca, especialmente quando administradas em doses elevadas ou cumulativas.
O trastuzumabe, por sua vez, uma terapia alvo utilizada no tratamento de tumores HER2-positivos, pode provocar disfunções cardíacas mesmo em pacientes sem histórico prévio de doenças cardíacas. O risco de cardiotoxicidade é particularmente elevado quando essas medicações são usadas de forma combinada.
Dessa forma, é essencial que o acompanhamento cardiológico seja parte integrante do tratamento, com avaliações regulares da função cardíaca, especialmente por meio de ecocardiogramas e exames de sangue para monitoramento de marcadores de lesão miocárdica.
3. Radioterapia torácica e as consequências cardiovasculares
A radioterapia, especialmente quando aplicada na região torácica, também pode impactar o coração e os vasos sanguíneos. A exposição do coração à radiação pode causar danos às artérias coronárias, ao pericárdio e ao miocárdio, resultando em condições como doença arterial coronariana, pericardite e, em casos mais graves, cardiomiopatia.
Mulheres que recebem radioterapia no lado esquerdo do tórax, onde o coração está mais próximo, têm um risco aumentado de desenvolver doenças cardíacas anos após o tratamento.
É por isso que a avaliação do risco cardiovascular deve ser feita não apenas durante o tratamento, mas também a longo prazo, com exames de imagem periódicos para identificar possíveis lesões precoces.
4. Terapias hormonais e seus efeitos sobre o sistema cardiovascular
Outro aspecto importante a ser considerado é o uso de terapias hormonais no tratamento do câncer de mama. Medicamentos como os inibidores de aromatase e o tamoxifeno são amplamente utilizados para reduzir os níveis de estrogênio, um hormônio que pode estimular o crescimento de certos tipos de tumores mamários.
O tamoxifeno, embora eficaz no controle do câncer, pode aumentar o risco de eventos tromboembólicos, como trombose venosa profunda e embolia pulmonar. Já os inibidores de aromatase, que são frequentemente prescritos para mulheres na pós-menopausa, podem afetar negativamente o perfil lipídico, aumentando o risco de aterosclerose e doenças cardiovasculares.
Assim, monitorar esses efeitos é essencial, especialmente em pacientes com predisposição a distúrbios metabólicos.
5. Estratégias de prevenção e acompanhamento cardiológico
A avaliação de risco cardiológico em mulheres com câncer de mama deve ser feita de forma individualizada e contínua. Antes do início do tratamento oncológico, é recomendado que todas as pacientes passem por uma avaliação cardiovascular completa, incluindo a medição da pressão arterial, análise do perfil lipídico, testes de função cardíaca e exames de imagem, como ecocardiograma.
Durante o tratamento, é fundamental monitorar regularmente a saúde cardiovascular da paciente, com especial atenção para alterações na função cardíaca que possam indicar cardiotoxicidade.
Para mulheres com maior risco cardiovascular, estratégias preventivas podem incluir a administração de medicamentos cardioprotetores, além de modificações no estilo de vida, como a adoção de uma dieta equilibrada, prática regular de exercícios e controle rigoroso da pressão arterial e dos níveis de colesterol.
6. Importância de uma abordagem multidisciplinar
O manejo do câncer de mama e a prevenção de complicações cardiovasculares exigem uma abordagem multidisciplinar. Oncologistas, cardiologistas, radioterapeutas e outros profissionais de saúde devem trabalhar de forma integrada para garantir que a paciente receba o tratamento oncológico mais eficaz, ao mesmo tempo em que protege sua saúde cardiovascular.
Essa abordagem colaborativa permite a criação de um plano de tratamento personalizado, ajustando o regime terapêutico sempre que necessário para minimizar o risco de cardiotoxicidade.
Além disso, o acompanhamento contínuo, mesmo após o término do tratamento do câncer, é essencial para a detecção precoce de problemas cardíacos tardios, que podem surgir anos depois.
Conclusão




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