O impacto da Reposição Hormonal no coração da mulher na menopausa
- Géssica Magalhães
- 2 de out. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 5 de out.
A menopausa é um período de transição na vida da mulher que traz diversas mudanças físicas e hormonais, incluindo a redução dos níveis de estrogênio. Essa diminuição hormonal pode afetar não apenas o bem-estar geral, mas também aumentar o risco de doenças cardiovasculares.

Uma das abordagens mais discutidas para amenizar os sintomas da menopausa e reduzir alguns desses riscos é a terapia de reposição hormonal (TRH).
Contudo, seus impactos no coração da mulher requerem uma análise cuidadosa. Vamos explorar os efeitos da reposição hormonal na saúde cardiovascular feminina, com base em diretrizes médicas.
1. Menopausa e a saúde cardiovascular feminina
Durante o ciclo reprodutivo, o estrogênio exerce um papel protetor sobre o sistema cardiovascular. Ele contribui para a elasticidade dos vasos sanguíneos, favorece o equilíbrio dos níveis de colesterol e age como um modulador natural de processos inflamatórios.
No entanto, com a chegada da menopausa e a subsequente queda dos níveis de estrogênio, o risco de desenvolver doenças cardíacas aumenta significativamente. A aterosclerose, por exemplo, tende a progredir de forma mais acelerada, enquanto a pressão arterial pode começar a subir, comprometendo a saúde do coração.
A reposição hormonal surge, então, como uma possível estratégia para mitigar esses efeitos. No entanto, apesar dos benefícios, seu impacto no coração é motivo de debate, uma vez que existem riscos associados, dependendo de fatores individuais.
2. Benefícios potenciais da reposição hormonal para o coração
Diversos estudos indicam que a reposição hormonal pode, de fato, oferecer alguns benefícios para a saúde cardiovascular, especialmente quando iniciada logo após o início da menopausa.
O uso precoce da TRH parece melhorar a função endotelial, contribuindo para a manutenção da flexibilidade das artérias, o que favorece o fluxo sanguíneo e reduz o risco de aterosclerose.
Além disso, a reposição hormonal pode auxiliar no controle dos níveis de colesterol. Ao aumentar o HDL (colesterol "bom") e diminuir o LDL (colesterol "ruim"), o estrogênio exógeno atua como um modulador lipídico, ajudando a prevenir o acúmulo de placas nas artérias e reduzindo o risco de eventos cardíacos graves, como infarto do miocárdio.
3. Riscos cardiovasculares associados à reposição hormonal
Apesar dos benefícios potenciais, é importante observar que a reposição hormonal não está isenta de riscos. Quando administrada a mulheres que já apresentam doenças cardiovasculares ou que começam a terapia muitos anos após o início da menopausa, a TRH pode aumentar a probabilidade de eventos adversos, como trombose venosa profunda, infarto e acidente vascular cerebral.
Esse risco aumentado ocorre principalmente porque o estrogênio pode promover a coagulação do sangue, tornando-o mais propenso à formação de coágulos. Esse efeito é especialmente preocupante em mulheres com histórico de trombose ou fatores de risco como obesidade, sedentarismo e tabagismo. Por isso, é essencial que a decisão de iniciar a reposição hormonal seja feita de forma personalizada, considerando o perfil de risco de cada mulher.
4. Otimização do uso da reposição hormonal: quem pode se beneficiar?
As diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sugerem que a reposição hormonal deve ser considerada em mulheres saudáveis que apresentem sintomas graves da menopausa, como ondas de calor, secura vaginal e alterações do humor, mas que não tenham histórico de doenças cardiovasculares. Para esse grupo, a TRH pode ser iniciada logo nos primeiros anos após o início da menopausa, o que parece proporcionar a melhor relação entre benefícios e riscos.
No entanto, a idade é um fator crucial. Mulheres que iniciam a terapia hormonal após os 60 anos, ou muitos anos depois do início da menopausa, podem enfrentar maiores riscos cardiovasculares sem obter os benefícios esperados. Nesses casos, alternativas não hormonais para o alívio dos sintomas devem ser consideradas.
5. Modalidades da reposição hormonal e seus efeitos no coração
Existem diferentes formas de administrar a reposição hormonal, e o método escolhido pode influenciar os riscos e benefícios para o coração. O uso de estrogênio isolado, por exemplo, é recomendado para mulheres que fizeram a retirada do útero, enquanto a combinação de estrogênio e progesterona é indicada para mulheres com útero intacto, a fim de prevenir o câncer de endométrio.
Estudos indicam que a via de administração também faz diferença. A reposição hormonal por meio de adesivos transdérmicos ou géis cutâneos tende a ter menos impacto sobre os fatores de coagulação do sangue em comparação à terapia via oral. Assim, essas opções podem representar uma escolha mais segura para mulheres preocupadas com o risco cardiovascular.
6. Prevenção e acompanhamento médico contínuo
A prevenção de complicações cardiovasculares durante a reposição hormonal depende de uma avaliação criteriosa dos fatores de risco e do monitoramento contínuo da saúde da mulher. O acompanhamento médico deve incluir a medição regular da pressão arterial, a avaliação do perfil lipídico e o controle de outros fatores de risco, como o peso e o nível de atividade física.
Além disso, é essencial que as mulheres estejam atentas a sinais de alerta, como dores no peito, palpitações ou falta de ar, que podem indicar problemas cardíacos. Caso qualquer sintoma incomum seja identificado, o tratamento hormonal pode precisar ser ajustado ou interrompido.
Conclusão




Comentários