Situações em que a gravidez é contraindicada (mulheres cardiopatas)
- Géssica Magalhães
- 2 de out. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 5 de out.
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A gestação é um período de intensas transformações no corpo da mulher, exigindo maior esforço do sistema cardiovascular para sustentar a vida que se desenvolve.
Contudo, em algumas mulheres com doenças cardíacas preexistentes, essas mudanças podem representar um risco elevado para a saúde materna e fetal.
Certas cardiopatias, pela sua gravidade e pela sobrecarga que impõem ao coração, são consideradas contraindicações absolutas à gestação. Este artigo aborda essas condições e os riscos envolvidos, destacando a importância do acompanhamento médico especializado.
1. A relação entre cardiopatias e gravidez: uma combinação de alto risco
Durante a gestação, o volume de sangue circulante aumenta em até 50%, e a frequência cardíaca se eleva para garantir que o bebê receba o oxigênio e os nutrientes necessários.
Para um coração saudável, essas adaptações são manejáveis, mas para um coração comprometido por cardiopatias graves, o estresse adicional pode resultar em complicações severas.
Cardiopatias que causam limitação na capacidade do coração de bombear sangue adequadamente ou que interferem na estrutura dos vasos sanguíneos podem levar a descompensações cardíacas fatais. Por isso, em algumas situações, a recomendação médica é a contraindicação absoluta de uma gestação, dado o risco de mortalidade materna e fetal.
2. Síndrome de Eisenmenger: um risco inaceitável
A síndrome de Eisenmenger é uma complicação rara de defeitos cardíacos congênitos não corrigidos, que leva a um aumento da pressão arterial nos pulmões (hipertensão pulmonar) e a uma inversão do fluxo sanguíneo.
Em mulheres com essa condição, o esforço cardíaco imposto pela gestação pode provocar um colapso circulatório, levando a complicações graves, como insuficiência cardíaca, arritmias e até óbito materno.
A taxa de mortalidade associada à gravidez em mulheres com síndrome de Eisenmenger é extremamente alta, chegando a 50% em alguns estudos. O risco de óbito fetal também é elevado, o que torna a gestação inviável para essas pacientes. A recomendação é o uso de métodos contraceptivos seguros e a consulta frequente com um cardiologista.
3. Hipertensão pulmonar arterial: um cenário perigoso
A hipertensão pulmonar arterial (HPA) é outra condição na qual a gestação é considerada uma contraindicação absoluta. Essa doença é caracterizada pela pressão anormalmente elevada nas artérias pulmonares, o que sobrecarrega o lado direito do coração. Durante a gravidez, essa sobrecarga é exacerbada, e o risco de insuficiência cardíaca direita aumenta significativamente.
Mulheres com HPA enfrentam um risco altíssimo de complicações potencialmente fatais, como embolia pulmonar e insuficiência respiratória. O aumento do volume de sangue e a maior demanda de oxigênio durante a gestação podem causar descompensações graves, elevando a mortalidade materna para níveis alarmantes.
4. Doença valvar severa: obstáculos intransponíveis na circulação
As doenças valvares, especialmente quando não tratadas, podem apresentar um desafio significativo durante a gestação. Valvopatias graves, como a estenose mitral ou a estenose aórtica, reduzem a capacidade do coração de bombear sangue de forma eficiente, o que pode ser perigoso durante a gravidez.
Na estenose mitral severa, por exemplo, a válvula mitral não abre completamente, limitando o fluxo de sangue para o ventrículo esquerdo. Durante a gravidez, isso pode levar à insuficiência cardíaca congestiva, edema pulmonar e arritmias, colocando tanto a mãe quanto o bebê em risco.
A estenose aórtica grave, por sua vez, provoca uma restrição ao fluxo sanguíneo que sai do coração, o que pode resultar em síncope, angina e até morte súbita durante o esforço adicional exigido pela gestação.
5. Cardiomiopatia periparto: uma ameaça recorrente
A cardiomiopatia periparto é uma condição rara, mas grave, que afeta algumas mulheres durante o final da gravidez ou logo após o parto. Caracteriza-se pela fraqueza súbita do músculo cardíaco, levando a insuficiência cardíaca.
Para mulheres que já tiveram essa condição em uma gestação anterior, a recorrência durante uma nova gestação é um risco alto.
Mesmo em casos onde houve recuperação completa da função cardíaca, o risco de recorrência da cardiomiopatia e de complicações severas é considerável.
Assim, para mulheres que sofreram de cardiomiopatia periparto, a gestação subsequente deve ser cuidadosamente avaliada e, em muitos casos, desaconselhada.
6. Dissecção de aorta e síndromes marfanoides: risco de ruptura fatal
Pacientes com doenças do tecido conjuntivo, como a síndrome de Marfan ou a síndrome de Ehlers-Danlos vascular, estão particularmente suscetíveis a dissecções de aorta durante a gestação.
A aorta, principal artéria que sai do coração, pode sofrer uma ruptura espontânea, o que é fatal se não tratado de forma emergencial.
Em mulheres com essas condições, o risco de ruptura da aorta aumenta drasticamente devido às alterações hormonais que afetam o tecido conjuntivo e ao aumento da pressão sanguínea.
Para muitas pacientes, a gravidez representa um risco inaceitável de morte súbita, sendo fortemente contraindicada.
7. A importância de um planejamento familiar cuidadoso
Para mulheres com cardiopatias graves, o planejamento familiar é um aspecto crucial de seus cuidados de saúde.
A contraindicação à gestação não significa a impossibilidade de ter filhos, mas sim a necessidade de explorar alternativas seguras, como a adoção ou o uso de tecnologias reprodutivas com a participação de uma mãe substituta.
O acompanhamento multidisciplinar, envolvendo cardiologistas, ginecologistas e especialistas em reprodução, é essencial para garantir que decisões informadas e seguras sejam tomadas.
Além disso, o uso de contraceptivos eficazes e seguros é fundamental para prevenir uma gestação acidental, que poderia ter consequências trágicas para a mulher.
Conclusão




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