Entendendo a Doença de Alzheimer
- Géssica Magalhães
- 9 de out.
- 5 min de leitura

Para início de conversa, é importante ressaltar que Doença de Alzheimer e demência são coisas distintas, embora sejam frequentemente usadas como sinônimos.
A demência é uma perda progressiva de memória ou de outras funções mentais, ou ainda uma alteração de humor ou comportamento suficientemente grave para interferir na vida cotidiana, seja em casa, no convívio social ou no trabalho. O termo “demência” abrange diversos transtornos cognitivos, como perda de memória, dificuldade de raciocínio e resolução de problemas ou prejuízos em outras habilidades cognitivas.
A Doença de Alzheimer é um tipo específico de demência, além de ser a mais comum entre elas. Ela representa 60% a 80% de todos os casos de demência.
O Alzheimer provoca um declínio cognitivo e perda de memória, acompanhados de mudanças de humor e comportamento. A doença é causada pelo acúmulo anormal de duas proteínas no cérebro, a saber, emaranhados (tau) e placas (beta-amiloide). Essas substâncias interferem na comunicação entre os neurônios, e, com o tempo, leva a morte progressiva das células cerebrais, levando à perda severa de autonomia e, por fim, ao óbito.
Após o diagnóstico, a expectativa média de vida é de 8 a 10 anos, geralmente com dependência crescente à medida que a doença avança. Não há cura, mas alguns tratamentos podem aliviar temporariamente os sintomas.
Evolução e variabilidade
O curso da doença varia muito entre os indivíduos, pois alguns desenvolvem alterações intensas de humor e comportamento, enquanto outros não; certos sintomas podem aparecer precocemente, enquanto outros demoram anos para surgir; em algumas pessoas, a progressão é lenta e gradual por mais de uma década; em outras, ocorre um declínio rápido, levando ao óbito em poucos anos.
Fatores de risco para a Doença de Alzheimer
Idade, gênero e histórico familiar
O risco aumenta progressivamente após os 65 anos.
Mulheres apresentam maior prevalência — quase dois terços dos casos são femininos.
Ter parente de primeiro grau (pai, mãe ou irmão) com Alzheimer dobra o risco.
Genética
Certas mutações genéticas específicas levam inevitavelmente ao Alzheimer precoce, com início médio aos 45 anos.
Essa forma genética e rara representa cerca de 1% dos casos.
Na forma tardia (comum, 99% dos casos), há genes que aumentam o risco, mas não causam diretamente a doença.
O principal é o gene da apolipoproteína E (ApoE), que possui três variantes: E2, E3 e E4.
A variante E4 está associada a falhas na eliminação de beta-amiloide do cérebro, favorecendo o acúmulo das placas.
Condições de saúde e estilo de vida
As mesmas doenças que afetam o coração e os vasos sanguíneos aumentam o risco de Alzheimer, incluindo:
Hipertensão arterial
Colesterol alto
Obesidade
Diabetes mellitus
Síndrome metabólica, caracterizada pela presença de três ou mais dos seguintes fatores:
circunferência abdominal aumentada,
pressão alta,
triglicerídeos elevados,
HDL baixo,
resistência à insulina.
Outros fatores de risco importantes: Tabagismo, traumatismo craniano, depressão, perda auditiva.
Sinais e sintomas da Doença de Alzheimer
A Doença de Alzheimer raramente é identificada em seus estágios iniciais, porque pacientes e familiares muitas vezes não relatam os primeiros sintomas ao médico, confundindo-os com sinais comuns do envelhecimento, como o esquecimento.
Além disso, os sintomas podem surgir de forma muito gradual, lenta, passando despercebidos, e, em alguns casos, a própria pessoa percebe as falhas, mas tenta ocultá-las ou compensá-las, por vergonha ou para não preocupar familiares. Reconhecer precocemente os sintomas é essencial para o diagnóstico, que é confirmado por testes físicos e cognitivos.
Principais sintomas
Perda progressiva de memória: É o sintoma mais característico e inicial. Afeta principalmente a memória recente (o paciente esquece conversas recentes, faz perguntas repetidas e tem dificuldade em aprender novas informações). Com o tempo, o prejuízo compromete o convívio social e o trabalho. As memórias antigas podem ser preservadas por mais tempo, mas tornam-se fragmentadas.
Desorientação: A percepção de tempo e espaço se altera. A pessoa pode achar que acabou de chegar quando já está há horas no local, ou pedir comida logo após terminar uma refeição.
Dificuldade de julgamento e resolução de problemas: há prejuízo na capacidade de tomar decisões, planejar e resolver tarefas simples. Atividades rotineiras se tornam complexas, e o julgamento inadequado pode levar a acidentes ou golpes financeiros.
Alterações na linguagem: Dificuldade em encontrar palavras e se expressar com clareza. O paciente pode usar descrições longas e imprecisas ou se irritar e abandonar o assunto.
Déficit visual e espacial: O cérebro perde a capacidade de interpretar corretamente informações visuais, o que causa dificuldade para localizar objetos, dirigir ou reconhecer rostos e utensílios comuns.
Mudanças de humor e comportamento: A apatia é comum. A pessoa perde o interesse por atividades, torna-se menos motivada, isolada ou deprimida. Pode apresentar ansiedade, irritabilidade, desconfiança ou agressividade.
Comprometimento das atividades diárias: A doença prejudica tarefas básicas como trabalhar, administrar finanças, dirigir, cozinhar, limpar a casa e fazer compras.
Estágios da Doença de Alzheimer
A progressão ocorre em cinco estágios, conforme os sintomas se agravam.
Estágio 1 – Comprometimento cognitivo leve
Pequenos esquecimentos ou distrações.
Dificuldade em absorver informações novas.
Perda de desempenho no trabalho e nas interações sociais.
Dificuldade em se orientar em locais novos e em encontrar palavras.
Alterações iniciais de personalidade como retraimento, apatia, irritabilidade ou ansiedade.
Negação do problema e tendência a culpar os outros pelos erros.
Estágio 2 – Demência leve
As falhas de memória tornam-se evidentes para familiares e amigos.
Dificuldade em reter informações novas e em seguir conversas.
Esquecimento de eventos recentes e até de dados pessoais.
Incapacidade de gerenciar finanças.
Depressão frequente.
Ausência de percepção crítica sobre a própria condição (anosognosia).
Comportamentos de risco, como insistir em dirigir ou cozinhar sozinha.
Estágio 3 – Demência leve a moderada
Memória flutua ao longo do dia.
Esquecimento de eventos importantes da vida.
Perda de noção temporal e conversas desorganizadas.
Sensação de insegurança que pode gerar paranoia ou delírios de roubo ou perseguição.
Ainda realiza atividades básicas (comer, ir ao banheiro), mas esquece etapas das tarefas.
Estágio 4 – Demência moderada a grave
Comprometimento linguístico acentuado e aparência doente.
Dificuldade de compreender o que os outros dizem ou fazem.
Delírios, alucinações e comportamentos repetitivos (limpar, guardar objetos, etc.).
Agitação, inquietação e distúrbios do sono.
Necessita ajuda para banho, vestuário e alimentação.
Estágio 5 – Demência grave ("a longa despedida")
Perda total da linguagem e da identidade.
Diminuição das habilidades motoras: o paciente deixa de andar, sentar-se, mastigar e engolir.
Incontinência urinária e fecal.
Alto risco de pneumonia aspirativa (saliva desde para os pulmões) e úlceras por pressão.
Infecções e pneumonia são causas frequentes de morte.
Tratamento da Doença de Alzheimer
Atualmente não há cura, mas existem tratamentos que aliviam sintomas e retardam a progressão em alguns casos.
Medicamentos aprovados: Quatro fármacos têm aprovação consolidada pela FDA:
Donepezila (Aricept)
Galantamina (Razadyne)
Rivastigmina (Exelon)
Memantina (Namenda)
Essas drogas atuam sobre neurotransmissores cerebrais, proporcionando melhora modesta e temporária (geralmente até 6 meses) da memória e da cognição. Outros medicamentos podem ser utilizados para controle de agitação psicomotora, estabilização do humor, depressão, delírios e alucinações.
(Fonte: Harvard Health Publishing)




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