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Inchaço nas pernas: compreendendo o edema de membros inferiores

  • Foto do escritor: Géssica Magalhães
    Géssica Magalhães
  • 11 de out.
  • 4 min de leitura
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O inchaço nas pernas, ou edema, é uma manifestação clínica frequente e multifatorial. Embora muitas vezes seja atribuído ao cansaço ou à retenção de líquidos, é fundamental reconhecer que esse sintoma pode indicar alterações sistêmicas mais complexas. A atenção ao inchaço persistente ou progressivo pode ser determinante para o diagnóstico de doenças cardíacas, renais, hepáticas ou vasculares.


O que é o edema?

O edema consiste no acúmulo anormal de líquido no espaço intersticial dos tecidos, levando ao aumento de volume da região acometida. Nas pernas, ele geralmente se manifesta como um inchaço visível e palpável, especialmente nos tornozelos, pés e panturrilhas. Pode ser simétrico ou unilateral, variar conforme o horário do dia e se agravar em certas posições, como ao ficar longos períodos em pé ou sentado.

A presença de edema pode estar relacionada a mecanismos locais, como insuficiência venosa, ou sistêmicos, como em casos de insuficiência cardíaca ou doenças renais.


Importância do diagnóstico diferencial

Identificar corretamente a causa do edema é essencial para conduzir um tratamento eficaz. O diagnóstico diferencial abrange uma ampla gama de condições, sendo necessário avaliar a intensidade, duração, localização, fatores associados e sinais clínicos complementares.


Principais causas de edema em membros inferiores:


1. Insuficiência venosa crônica: Uma das causas mais comuns. Ocorre devido à falência das válvulas das veias das pernas, dificultando o retorno do sangue ao coração. O inchaço tende a piorar ao longo do dia e melhora com o repouso e a elevação dos membros. Pode vir acompanhado de varizes, sensação de peso, dor e alterações na coloração da pele.


2. Insuficiência cardíaca congestiva: O coração, ao perder sua capacidade de bombear adequadamente o sangue, provoca acúmulo de líquidos nas extremidades. O edema cardíaco é geralmente bilateral e simétrico, muitas vezes associado a dispneia, fadiga e ortopneia.


3. Doenças renais: A nefropatia leva à perda de proteínas na urina (proteinúria), o que reduz a pressão oncótica plasmática e facilita o extravasamento de líquido para os tecidos. Nesses casos, o edema pode ser mais acentuado pela manhã e envolver outras regiões do corpo, como face e pálpebras.


4. Doenças hepáticas: Na cirrose hepática, a hipoalbuminemia e o aumento da pressão portal favorecem o edema, que pode se manifestar em membros inferiores e também como ascite (acúmulo de líquido no abdômen).


5. Trombose venosa profunda (TVP): Caracteriza-se por edema súbito, geralmente unilateral, associado a dor, calor local e endurecimento da perna. É uma urgência médica devido ao risco de embolia pulmonar.


6. Linfedema: Decorre da obstrução ou disfunção do sistema linfático. O inchaço é progressivo, crônico e pode atingir graus severos de deformidade. Frequentemente é assimétrico e não regride com repouso.


7. Causas medicamentosas: Diversos fármacos podem causar retenção de líquidos, como bloqueadores dos canais de cálcio, corticoides, anti-inflamatórios não esteroides e hormônios.


Realizar um diagnóstico diferencial acurado envolve exame físico minucioso, histórico clínico detalhado e, quando necessário, exames laboratoriais e de imagem.


Estratégias de prevenção

A prevenção do edema depende da identificação precoce dos fatores de risco e da adoção de medidas que favoreçam o retorno venoso e a saúde vascular.

Medidas gerais preventivas:

  • Evitar longos períodos em pé ou sentado sem movimentar as pernas

  • Manter o peso corporal adequado

  • Praticar atividade física regularmente, sobretudo exercícios que ativem a panturrilha, como caminhada, natação ou bicicleta

  • Elevar as pernas ao final do dia, por cerca de 20 a 30 minutos

  • Utilizar meias de compressão elástica, quando indicado

  • Controlar condições crônicas, como hipertensão, diabetes e dislipidemia

  • Reduzir o consumo de sal, evitando alimentos ultraprocessados

  • Abster-se do tabagismo, que compromete a circulação


Pacientes com história familiar de insuficiência venosa, varizes ou linfedema devem estar particularmente atentos a essas orientações.


Abordagens de tratamento

O tratamento do edema nas pernas está diretamente relacionado à sua causa. A abordagem sintomática pode oferecer alívio temporário, mas o objetivo central é tratar o fator etiológico.

Linhas gerais de tratamento:

1. Insuficiência venosa

  • Meias elásticas de compressão graduada

  • Fisioterapia vascular

  • Medicamentos venotônicos (sob prescrição médica)

  • Em casos selecionados, procedimentos cirúrgicos ou escleroterapia

2. Edema cardíaco

  • Uso de diuréticos sob orientação médica

  • Restrição de sódio

  • Monitoramento rigoroso do peso corporal

  • Tratamento da insuficiência cardíaca com medicamentos específicos (IECA, betabloqueadores, antagonistas da aldosterona)


3. Nefropatia e hepatopatia

  • Controle da doença de base

  • Reposição de albumina em alguns casos

  • Diuréticos e ajustes na dieta


4. Trombose venosa profunda

  • Anticoagulação imediata

  • Repouso com elevação do membro

  • Investigação de causas trombofílicas


5. Linfedema

  • Drenagem linfática manual

  • Terapia compressiva complexa

  • Cuidados rigorosos com a pele para prevenir infecções secundárias


O uso indiscriminado de diuréticos deve ser evitado, pois pode mascarar o quadro clínico e provocar desequilíbrios eletrolíticos graves.


Quando procurar atendimento médico?

Embora nem todo inchaço nas pernas represente gravidade, existem situações que requerem avaliação imediata:

  • Edema súbito e unilateral

  • Presença de dor, vermelhidão ou calor local

  • Inchaço acompanhado de falta de ar ou dor torácica

  • Edema associado a alterações urinárias, icterícia (pele e escleras amareladas) ou ganho rápido de peso

  • Presença de lesões cutâneas ou infecções de repetição


A automedicação ou negligência diante do edema pode atrasar o diagnóstico de doenças potencialmente fatais.


Considerações finais

O inchaço nas pernas é uma manifestação clínica que, embora comum, exige análise criteriosa e abordagem individualizada. A investigação cuidadosa das causas, o correto diagnóstico diferencial, a adoção de medidas de prevenção e a escolha assertiva do tratamento são fundamentais para preservar a qualidade de vida e evitar desfechos adversos.

O corpo se expressa de maneira silenciosa e sutil. Estar atento aos seus sinais é um exercício de cuidado e responsabilidade com a própria saúde.


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© 2019 por Dra Géssica Magalhães. 

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