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O impacto dos anticoncepcionais no coração da mulher

  • Foto do escritor: Géssica Magalhães
    Géssica Magalhães
  • 2 de out. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 18 de out.

Os anticoncepcionais hormonais são amplamente utilizados pelas mulheres em todo o mundo, não apenas como método contraceptivo, mas também para o manejo de condições como a síndrome dos ovários policísticos, endometriose e acne. Embora sua eficácia seja indiscutível, é fundamental compreender os possíveis efeitos que essas medicações podem ter no coração da mulher.


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Este artigo explora a relação entre os anticoncepcionais hormonais e a saúde cardiovascular feminina, com base nas diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia.


1. Anticoncepcionais e os hormônios: como eles funcionam?


A base dos anticoncepcionais hormonais, sejam eles pílulas, adesivos, injeções ou implantes, reside na combinação de estrogênio e progesterona, ou em alguns casos, apenas progesterona. Esses hormônios sintéticos são projetados para inibir a ovulação, alterando o ciclo hormonal natural da mulher. No entanto, essa interferência hormonal não é isenta de efeitos colaterais.


O estrogênio, por exemplo, desempenha um papel protetor natural no sistema cardiovascular das mulheres, contribuindo para a flexibilidade das artérias e para o equilíbrio dos níveis de colesterol. Já a progesterona, em suas formas sintéticas, pode afetar de maneira adversa esse equilíbrio, contribuindo para alterações no metabolismo lipídico e aumentando o risco de formação de coágulos.


2. O risco de trombose e doenças cardíacas


Um dos efeitos adversos mais conhecidos do uso de anticoncepcionais hormonais é o aumento do risco de trombose venosa profunda (TVP) e embolia pulmonar. Esse risco é particularmente elevado em mulheres que usam pílulas combinadas contendo estrogênio e progesterona. Esses hormônios aumentam a produção de fatores de coagulação no fígado, tornando o sangue mais propenso à formação de coágulos.


Esse risco pode ser ainda maior em mulheres que já apresentam predisposições a doenças cardiovasculares, como hipertensão, obesidade, tabagismo ou histórico familiar de doenças cardíacas.


Além disso, mulheres acima dos 35 anos que utilizam anticoncepcionais hormonais estão particularmente vulneráveis ao desenvolvimento de doenças cardíacas, como o infarto do miocárdio e o acidente vascular cerebral (AVC).


3. Impacto no perfil lipídico e na pressão arterial


O uso prolongado de anticoncepcionais hormonais também pode provocar alterações no perfil lipídico da mulher, um fator crucial para a saúde do coração. A combinação de estrogênio e progesterona pode aumentar os níveis de LDL (colesterol “ruim”) e reduzir os níveis de HDL (colesterol “bom”), criando um ambiente propício para o desenvolvimento de aterosclerose – o acúmulo de placas de gordura nas artérias, que pode resultar em obstruções e, eventualmente, em um ataque cardíaco.


Além disso, alguns tipos de anticoncepcionais hormonais, principalmente os que contêm progesterona, podem elevar a pressão arterial. Isso ocorre porque a progesterona sintética pode alterar o funcionamento dos vasos sanguíneos, promovendo a retenção de sódio e, consequentemente, aumentando o volume de líquido no corpo.


A pressão arterial elevada é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, e o seu controle é essencial para a prevenção de complicações.


4. Fatores de risco que aumentam as complicações cardiovasculares


Embora muitas mulheres possam utilizar anticoncepcionais hormonais com segurança, há grupos que precisam de maior vigilância devido ao risco cardiovascular aumentado. Mulheres com histórico familiar de doenças cardíacas, tabagistas ou com obesidade devem ser avaliadas com cautela antes de iniciar qualquer método contraceptivo hormonal.


Outro grupo de risco é o de mulheres que sofrem de enxaqueca com aura. Estudos indicam que o uso de anticoncepcionais hormonais em mulheres que apresentam esse tipo específico de enxaqueca pode aumentar significativamente o risco de AVC. Nesses casos, a recomendação é optar por métodos contraceptivos não hormonais ou discutir alternativas com um médico especializado.


5. Alternativas mais seguras para a saúde do coração


Diante dos riscos potenciais dos anticoncepcionais hormonais, é importante que as mulheres discutam suas opções com um profissional de saúde, levando em consideração seu histórico pessoal e familiar de doenças cardiovasculares. Em alguns casos, métodos de contracepção sem hormônios, como o DIU de cobre, podem ser uma alternativa mais segura para a saúde do coração.


Outro ponto a ser considerado é o uso de pílulas de progesterona isolada, que apresentam um risco cardiovascular menor em comparação às pílulas combinadas. No entanto, essa opção deve ser avaliada individualmente, pois pode não ser a escolha mais adequada para todas as mulheres.


6. O papel da prevenção e do acompanhamento médico


A prevenção de complicações cardiovasculares em mulheres que utilizam anticoncepcionais hormonais começa com um acompanhamento médico regular. Monitorar a pressão arterial, realizar exames de sangue para avaliar o perfil lipídico e investigar sinais precoces de doenças cardíacas são medidas essenciais para garantir a segurança da paciente.


Além disso, é fundamental que as mulheres estejam cientes dos sinais de alerta de trombose, como dores e inchaços nas pernas, e de problemas cardíacos, como dores no peito, palpitações e falta de ar. Caso apresentem algum desses sintomas, o acompanhamento médico deve ser imediato para evitar complicações mais graves.


  • Conclusão


Os anticoncepcionais hormonais são uma ferramenta eficaz para o planejamento familiar e para o manejo de diversas condições ginecológicas. No entanto, seu uso prolongado ou indiscriminado pode acarretar riscos significativos à saúde cardiovascular, especialmente em mulheres com fatores de risco preexistentes.


O equilíbrio entre os benefícios e os riscos deve ser cuidadosamente avaliado, sempre com o acompanhamento de um profissional de saúde capacitado. Ao optar por anticoncepcionais hormonais, é essencial que as mulheres estejam informadas e vigilantes sobre os possíveis impactos no coração, garantindo assim uma vida saudável e protegida.

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© 2019 por Dra Géssica Magalhães. 

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