Ronco e Risco Cardiovascular: O Que Você Precisa Saber
- Géssica Magalhães
- 1 de out. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 18 de out.
Aqui entre nós: Apneia obstrutiva do sono é o nome 'gourmet' do ronco!

A apneia do sono é um distúrbio respiratório que afeta milhões de pessoas em todo o mundo e está diretamente associada a sérias complicações de saúde, incluindo um risco significativamente maior de doenças cardiovasculares. Embora muitas vezes subdiagnosticada, essa condição pode ser silenciosa e progressiva, comprometendo o bem-estar físico e mental de quem a apresenta. Neste artigo, vamos explorar a relação entre a apneia do sono e o risco cardiovascular, destacando a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado para proteger a saúde do coração.
O que é a apneia do sono?
A apneia do sono, mais especificamente a apneia obstrutiva do sono (AOS), é caracterizada por interrupções repetidas na respiração durante o sono. Essas pausas podem durar de alguns segundos a minutos e acontecem quando as vias aéreas ficam bloqueadas ou colapsam, impedindo a passagem do ar. Como resposta, o cérebro envia sinais para que o corpo desperte, retomando a respiração normal. Esse ciclo de interrupções pode ocorrer dezenas ou até centenas de vezes por noite, prejudicando gravemente a qualidade do sono.
Esse distúrbio não só afeta o sono, mas também causa consequências sistêmicas graves. Entre os principais sintomas estão ronco alto, engasgos noturnos, cansaço ao acordar, sonolência diurna excessiva e dificuldades de concentração. Embora muitas pessoas convivam com a apneia do sono sem perceber, o impacto sobre a saúde, especialmente cardiovascular, pode ser devastador se não tratado adequadamente.
A relação entre apneia do sono e doenças cardiovasculares
A apneia do sono é um fator de risco significativo para uma série de doenças cardiovasculares, incluindo hipertensão, insuficiência cardíaca, arritmias, infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). A cada pausa na respiração, o nível de oxigênio no sangue cai, o que provoca uma resposta do sistema nervoso simpático. Esse sistema, que controla as reações de "luta ou fuga", faz com que a pressão arterial aumente e o coração acelere para compensar a falta de oxigênio.
Com o tempo, essa ativação repetida e prolongada do sistema nervoso simpático leva à hipertensão resistente, uma condição em que a pressão arterial permanece elevada, mesmo com o uso de medicamentos. Além disso, as oscilações nos níveis de oxigênio no sangue, conhecidas como hipóxia intermitente, podem causar inflamação crônica e danos ao endotélio (a camada interna dos vasos sanguíneos), contribuindo para o desenvolvimento de aterosclerose e outros problemas cardíacos.
Hipertensão e apneia do sono
A hipertensão é uma das complicações mais comuns e graves associadas à apneia do sono. A privação de oxigênio durante as apneias noturnas faz com que o corpo libere hormônios do estresse, como a adrenalina, que provocam a constrição dos vasos sanguíneos e aumentam a pressão arterial. A longo prazo, isso pode resultar em hipertensão crônica, mesmo durante o dia.
De acordo com as diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia, pacientes com hipertensão resistente, ou seja, aqueles que não conseguem controlar a pressão arterial com o uso de três ou mais medicamentos anti-hipertensivos, devem ser avaliados para apneia do sono. O tratamento da apneia, especialmente com o uso de dispositivos como o CPAP (Continuous Positive Airway Pressure), pode melhorar significativamente o controle da pressão arterial e reduzir o risco de complicações cardiovasculares.
Arritmias cardíacas e apneia do sono
Pessoas com apneia do sono têm um risco maior de desenvolver arritmias cardíacas, como fibrilação atrial. Durante os episódios de apneia, as quedas nos níveis de oxigênio no sangue e os despertares súbitos causam uma variação na frequência cardíaca, o que pode desencadear batimentos cardíacos irregulares. Esses episódios repetidos de arritmia aumentam o risco de formação de coágulos sanguíneos, que podem causar AVCs.
A fibrilação atrial, em particular, está fortemente associada à apneia do sono. Estudos mostram que o tratamento eficaz da apneia pode ajudar a reduzir a frequência e a gravidade das arritmias, protegendo o coração e reduzindo o risco de complicações mais graves.
Insuficiência cardíaca e apneia do sono
A apneia do sono também desempenha um papel no desenvolvimento e na progressão da insuficiência cardíaca. A hipóxia intermitente e as oscilações na pressão arterial causam sobrecarga no coração, o que, ao longo do tempo, pode levar ao enfraquecimento do músculo cardíaco e à incapacidade do coração de bombear sangue de maneira eficiente.
Pacientes com insuficiência cardíaca frequentemente apresentam apneia do sono, e o tratamento adequado do distúrbio respiratório pode melhorar a função cardíaca e reduzir os sintomas de insuficiência, como falta de ar e cansaço excessivo. O uso do CPAP, que mantém as vias aéreas abertas durante o sono, é uma estratégia eficaz para aliviar a sobrecarga no coração e melhorar a qualidade de vida desses pacientes.
Acidente vascular cerebral (AVC) e apneia do sono
O risco de acidente vascular cerebral (AVC) também é significativamente maior em pessoas com apneia do sono. Durante os episódios de apneia, as variações na oxigenação e a elevação da pressão arterial aumentam a probabilidade de ruptura de um vaso sanguíneo ou de formação de coágulos, o que pode resultar em um AVC.
Além disso, após um AVC, muitos pacientes desenvolvem apneia do sono ou veem a condição se agravar. Isso cria um ciclo perigoso, em que a apneia do sono aumenta o risco de novos eventos cerebrovasculares. Assim, é essencial que pacientes que sofreram AVC sejam avaliados para apneia do sono e tratados de forma adequada para prevenir novos episódios.
Diagnóstico e tratamento da apneia do sono
O diagnóstico da apneia do sono é feito por meio de um exame chamado polissonografia, que monitora a respiração, os níveis de oxigênio, os movimentos oculares e outros parâmetros enquanto o paciente dorme. Com base nos resultados, o médico pode determinar a gravidade da apneia e recomendar o tratamento mais adequado.
O tratamento padrão para a apneia do sono moderada a grave é o uso de um dispositivo CPAP, que fornece uma pressão positiva contínua nas vias aéreas, evitando que elas se fechem durante o sono. Para casos mais leves, mudanças no estilo de vida, como perda de peso, evitar álcool antes de dormir e dormir de lado, podem ajudar a aliviar os sintomas.
Em alguns casos, dispositivos orais ou cirurgias podem ser indicados para tratar a apneia, especialmente se houver obstruções físicas nas vias respiratórias, como hipertrofia das amígdalas ou problemas estruturais no nariz e garganta.
A importância do tratamento precoce
O tratamento precoce da apneia do sono é fundamental para reduzir o risco de complicações cardiovasculares graves. Embora a apneia seja frequentemente vista como um distúrbio do sono, suas consequências vão muito além da qualidade do descanso. O impacto sobre o coração e o sistema circulatório é profundo e, sem o tratamento adequado, o risco de doenças como hipertensão, infarto e AVC aumenta significativamente.
Além disso, o tratamento da apneia melhora a qualidade de vida, reduzindo a fadiga diurna, melhorando o humor e restaurando o sono reparador. Para proteger a saúde cardiovascular e prevenir complicações futuras, é essencial que a apneia do sono seja diagnosticada e tratada o quanto antes.
Conclusão



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